domingo, 20 de abril de 2014

ARTETERAPIA: Um surpreendente e poderoso caminho de autoconhecimento e transformação

ARTETERAPIA: Um surpreendente e poderoso caminho de
 autoconhecimento e transformação
De:http://www.monicaguttmann.com/artigo7.pdf
Monica Guttman

“Não servimos o fraco ou o vencido.
Servimos a inteireza uns dos outros e da própria vida.
A parte dentro de você que eu sirvo é a mesma
que é fortalecida dentro de mim no momento que eu sirvo.
Diferentemente de ajudar, reparar, resgatar, o servir é mútuo.
Há muitas maneiras de servir e fortalecer a vida ao nosso redor:
através da amizade, paternidade ou do trabalho,
da gentileza, compreensão, generosidade ou aceitação.
É através da filantropia, do nosso exemplo,
nosso encorajamento, nossa ativa participação, nossa crença.
Não importa como o façamos, o ato de servir nos abençoa.
Quando oferecemos nossas bênçãos com generosidade
a luz do mundo ganha força ao nosso redor e dentro de nós.”

Rachel Naomi Remen


A cada dia é mais encantador, surpreendente e poderoso o caminho oferecido
pela Arteterapia. As imagens mentais que expressam nossas emoções por
meio das mais diferentes expressões artísticas podem ser, de fato, reveladoras
e transformadoras.

As palavras abrem espaço para os textos metafóricos que nascem de imagens
que fazem parte das expressões mais íntimas e diretas de nosso inconsciente,
mas não alcançam tudo. Em seu grande esforço de tradução das percepções e
sensações do mundo, elas têm (como tudo!) seus limites, suas
impossibilidades.

As expressões artísticas fazem a ponte entre nosso inconsciente e nosso
consciente, e revelam arquivos guardados e escondidos em nosso imaginário,
que representam lembranças, emoções e sentimentos, que ainda permanecem
presentes.

Decepções, depressões, raivas, ansiedades, culpa, medos, mágoas, 
inseguranças e obsessões podem ocupar espaços tão gigantescos dentro das 
pessoas que elas deixam de escutar e reconhecer as pérolas, que também 
existem dentro delas. E como é lindo e inspirador o momento em que elas 
resolvem escutar-se e olhar-se com mais amor e respeito, deixando de lado o 
orgulho que as escraviza, na tentativa insana e perversa do compromisso com a
 coerência, a linearidade e a aceitação.

Somos ambíguos, sim! Pois somos muito mais amplos do que sabemos e
podemos reconhecer.

As ciências não explicam tudo e suas respostas obedecem ao movimento
natural e transcendente da vida. Suas respostas são temporais, mesmo que
suas verdades transcendam este tempo, que se amplia a cada pesquisa,
descoberta, encontro ou desencontro.

Já a expressão artística acompanha a história da humanidade desde seu início,
como espelho deste processo amplo, holográfico, atemporal e vivo!

Para a sobrevivência, saúde e crescimento de nossa sensibilidade humana é
fundamental a necessidade de um espaço para criar, sonhar, realizar-se,
descobrir...

Um tempo criativo para pensar, sentir e criar...
O contato com outras pessoas, parecidas ou diferentes... um instrumento
próprio para viajar com as cores de sua imaginação ... um voto de confiança
para a coragem de acreditar na liberdade e na autenticidade e uma gotinha
suave e necessária de fé em seu próprio valor .

Não podemos esquecer que viemos a este mundo para tentar dar uma voz
criativa aos pedidos e necessidades de nossa alma com sensibilidade e
inspiração - inspiração no sentido de contribuir no plantio de sementes, que
possam fertilizar relacionamentos melhores com nós mesmos e com o mundo
ao nosso redor.

A Arteterapia pode ser um caminho revelador e inspirador que nos ajuda a 
entrar em contato com a possibilidade abundante e generosa de acreditar, 
desafiar, reconstruir, criar e expressar as emoções, sentimentos e imagens que 
trazemos dentro de nós 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Glória Pires interpreta heroína alagoana da psiquiatria em filme que será lançado este an


Ela nasceu em Maceió (1905), estudou no colégio Santíssimo
 Sacramento, foi uma das primeiras mulheres a se formar em
 Medicina (na Faculdade de Medicina da Bahia) e se tornou uma
 das heroínas da psiquiatria brasileira ao se negar a usar tratamentos
 agressivos (como o eletro-choque e a lobotomia) em pacientes com
 esquizofrenia e outros distúrbios – inovando com o uso de métodos
 hoje consagrados como a terapia ocupacional e o uso da arte para 
seus pacientes se expressarem, assim como outros métodos alternativos
 como o estímulo ao contato com animais domésticos para acalmar 
seus pacientes.
"Estamos todos apaixonados por ela”, disse a atriz Glória Pires
 há dois anos, quando começou a estudar a vida da alagoana para 
interpretá-la no filme Nise da Silveira – A Senhora das Imagens.
 “Está sendo uma maravilha, um aprendizado, um sonho".
 Em entrevista para o canal Telecine (veja vídeo abaixo),
 a atriz também falou da emoção de filmar no local onde 
Nise trabalhou, o Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II,
 hoje Instituto Municipal Nise da Silveira,
 Engenho de Dentro, Rio de Janeiro.
O filme se passa entre 1942 e 1944, período em que Nise chega
 ao Rio de Janeiro para trabalhar no hospital e é designada para
 cuidar da área de terapia ocupacional do centro psiquiátrico da unidade,
 transformando o setor. Os pacientes passam a ser tratados
 como “clientes” e a participar de atividades como jardinagem,
 teatro, dança e música. As chamadas oficinas de arte acabam
 se tornando ferramentas eficazes e fundamentais para a melhora
 significativa dos internos. “A partir desse momento,
alguns desses esquizofrênicos embotados transformaram-se
 em grandes artistas. E, pela leitura que fazia dessas obras,
 Nise começou a penentrar no inconsciente deles.
 Este talvez tenha sido seu grande triunfo.
 O filme fala disso tudo”, comentou o diretor Roberto Berlinder.
Dirigido por  Roberto Berliner, o filme está em fase final de edição
 e deve ser lançado ainda este ano. Além de Glória Pires no papel
 principal, o elenco conta com a presença de atores como
 Flavio Bauraqui, Fabrício Boliveira, Julio Adrião, Felipe Rocha 
e Claudio Jaborandy.
Essa semana, a expectativa em torno do lançamento do filme
 aumentou ainda mais com a exibição no Rio de Janeiro e em
 São Paulo do documentário "Posfácio - Imagens do Inconsciente"
 por Eduardo Escorel, montado a partir da entrevista que o cineasta
 Leon Hirzman fez com a psiquiatra na década de 1980 
durante as filmagens do documentário “Imagens do Inconsciente”.
Uma prova de que, quanto mais o tempo passa, o trabalho
 da alagoana - que se correspondia diretamente com o psiquiatra
 e psicoterapeuta suiço Carl Jung, de quem foi discípula –
 ganha cada vez mais força - assim como ocorreu com a
 obra do seu conterrâneo e ex-companheiro de prisão,
 Graciliano Ramos, que fez questão de descrevê-la em suas
 “Memórias do Cárcere”.
(Leia abaixo trecho do livro em que Graciliano descreve como foi
 apresentada à alagoana selecionado por Elvia Bezerra,
 coordenadora de Literatura do Instituto Moreira Salles)
"Numa passada larga, atingi o vão da janela: agarrei-me aos
 varões de ferro, olhei o exterior, zonzo, sem perceber direito
 por que me achava ali. Uma voz chegou-me, fraca, mas no
 primeiro instante não atinei com a pessoa que falava.
 Enxerguei o pátio, o vestíbulo, a escada já vista no dia anterior.
 No patamar, abaixo de meu observatório, uma cortina de lona
 ocultava a Praça Vermelha. Junto, à direita, além de uma grade larga,
 distingui afinal uma senhora pálida e magra, de olhos fixos, arregalados.
 O rosto moço revelava fadiga, aos cabelos negros misturavam-se
 alguns fios grisalhos. Referiu-se a Maceió, apresentou-se:
– Nise da Silveira.
Noutro lugar o encontro me daria prazer. O que senti foi surpresa,
 lamentei ver a minha conterrânea fora do mundo, longe da profissão
, do hospital, dos seus queridos loucos.
 Sabia-a culta e boa, Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza
 moral daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se,
 como a escusar-se de tomar espaço. Nunca me havia aparecido
 criatura mais simpática. O marido, também médico,
 era o meu velho conhecido Mário  Magalhães.
 Pedi notícias dele: estava em liberdade. E calei-me,
 em vivo constrangimento.
De pijama, sem sapatos, seguro à verga preta, 
achei-me ridículo e vazio; certamente 
causava impressão muito infeliz. Nise,
 acanhada, tinha um sorriso doce, fitava-me
 os bugalhos enormes, e isto me agravava a perturbação,
 magnetizava-me. Balbuciou imprecisões, guardou silêncio,
, provavelmente se arrependeu de me haver convidado para
 deixar-me assim confuso." 
por Rodrigo Cavalcante