domingo, 3 de novembro de 2013

As crianças e os seus segredos

Trabalhar com emoções e sentimentos da arte-terapia ainda é pouco comum nas escolas. Técnicos realçam potencialidades do método para identificar problemas.

Sara R. Oliveira
O lápis e o papel branco. A arte-terapeuta Mônica Mariano começa com o material mais familiar para se dar a conhecer ao grupo de seis crianças do 2.º e 3.º anos de escolaridade do 1.º ciclo do Ensino Básico. Os mais pequenos desenham e são estimulados a falar do que lhes vai na alma. Do papel para o barro, do barro para pinturas em papel cenário. Constroem-se casas em cartão, usam-se aguarelas para controlar as tintas mais líquidas. Há berlindes colocados na folha no momento do desenho para que se lide com a frustração de não se conseguir pintar o que se quer. Neste momento, a arte-terapeuta trabalha com marionetas numa das EB1 de Loulé, no Algarve. Mônica Mariano está a realizar o estágio do curso de arte-terapia. Pediu à escola de Loulé que indicasse quais os alunos que tinham problemas ao nível da aprendizagem e do comportamento. Entrevistou as crianças e os pais e selecionou o grupo com o qual trabalha algumas horas por semana. 

É preciso ajustar o método, escolher a arte mais adequada ao grupo. Mônica Mariano adianta que o que se passa dentro das quatro paredes da sala é guardado convenientemente. A arte-terapeuta não entra em grandes pormenores com os pais ou encarregados de educação. Aos professores vai perguntando se há ou não progressos. "Não entro em muitos pormenores. A criança está, de alguma forma, a entregar alguns segredos", explica. "Não vou muito ao detalhe porque a criança precisa dessa confiança", acrescenta. Trabalham-se emoções escondidas, sentimentos guardados que se exteriorizam através dos materiais que são colocados nas mãos. "As crianças podem pintar de outra forma, fazer outra coisa, sem ter de falar das emoções." No fundo, salienta, "trabalha-se mais a criança na sua espontaneidade". Para Mônica Mariano, "a arte-terapia funciona muito bem nas escolas, até em termos de adolescentes porque é um momento que têm para se exprimir, para falar dos seus problemas de uma forma mais livre, não estando restringidos às regras da escola". "É uma forma fantástica de falar das emoções e dos sentimentos", conclui. 

Cristina Cruz é arte-psicoterapeuta há seis anos. Exerce psicologia e arte-terapia na EB 2,3 dos Louros na Madeira. Trabalha com alunos dos 10 aos 17 anos, do ensino regular e que frequentam cursos de Educação Formação. Uma sessão de arte-terapia tem três fases. "A primeira de acolhimento das crianças ou dos adolescentes (como foi a semana, acontecimentos especiais de algum aluno); a fase de desenvolvimento onde cada participante expõe as suas angústias de forma expressiva (pintura, escrita criativa, tabuleiro areia, dramatização, colagens), onde depois vamos explorar os sentimentos e emoções de cada um; a fase do encerramento, na qual tentamos conter e sustentar tudo o que se passou na sessão para todos se sentirem acolhidos."

Cristina Cruz considera que a arte-terapia pode ser desenvolvida em qualquer faixa etária. E há frutos que vão sendo colhidos. "O desenvolvimento da criatividade nas crianças e adolescentes proporciona-lhes uma integração diferente da sua forma de percepcionar o meio que os rodeia. De tal forma, que os mediadores da arte-terapia criam um leque de abertura para o próprio self", realça. Na sua perspetiva, há escolas que resistem a abrir a porta a essas experiências. "Penso que nem todas as escolas estão receptivas para esta intervenção. Na escola em que trabalho há uma grande receptividade para a mudança, logo tudo o que surge de novo, e que tenha resultados positivos, é bastante aceite", refere.

Irene Monteiro é psicóloga e está a terminar a formação de arte-terapia. Neste momento, trabalha com um grupo de vítimas de violência doméstica num projeto social. A técnica reconhece que a prática é relativamente nova e que, regra geral, ainda não faz parte de um projeto educativo alternativo. "A arte-terapia pode ser muito útil em contexto escolar porque pode trabalhar com uma população de crianças de risco, em risco de abandono escolar, com dificuldades de aprendizagem, com necessidades educativas especiais." "A intervenção da arte-terapia tem um carácter de tratamento quando há uma problemática instalada. A componente de integração é muito útil", afirma. 

Irene Monteiro realça o que a metodologia em que a terapia dá as mãos à arte "trabalha muito de afetos, trabalha questões do foro emocional". "Nas necessidades educativas especiais, a intervenção é muito centrada nos défices cognitivos e a parte emocional, relacional, fica de fora", sublinha. "Na arte-terapia cabem muitas atividades, o que a diferencia é depois o que é feito sobre essas atividades. O arte-terapeuta não é alguém que diz à criança para fazer assim ou de forma diferente, que lhe diz que está bem ou que está mal", acrescenta. 

O psicólogo Hugo Cruz usa a arte para trabalhar com alguns alunos recorrendo ao teatro-fórum. A partir de uma peça de teatro, os alunos podem trocar de papéis para mudarem o rumo da história, para tentar resolver problemas identificados na representação. Usa a arte e não a terapia numa lógica, explica, "mais preventiva e educativa e não tanto remediativa". A violência doméstica é o tema que tem percorrido vários estabelecimentos de ensino do concelho de Santa Maria da Feira, onde Hugo Cruz coordena o projeto municipal Direitos & Desafios. O psicólogo afirma que a arte-terapia faz todo o sentido nas escolas. "Pode ser um excelente instrumento para exteriorizar emoções relacionadas com as vivências na escola." "O facto de se ter uma má nota tem uma carga emocional e uma implicação muito fortes", alerta. 

A arte-terapia ainda é pouco utilizada nas escolas portuguesas. Esta relação particular entre o sujeito, o objeto de arte e o terapeuta não consta nos planos curriculares. A metodologia é bastante abrangente, uma vez que recorre a diversas componentes artísticas como pintura, desenho, jogos, marionetas, música, expressão corporal, poesia, escrita livre e criativa, colagens, modelagens. Tudo o que estiver ao alcance para abordar emoções e sentimentos. O objeto de arte serve sobretudo para mediar as expressões.

Nas contas feitas pela Sociedade Portuguesa de Arte-Terapia (SPAT) há, neste momento, oito estabelecimentos de ensino a recorrerem a esta prática. "Temos vários membros a atuar em contexto escolar. No Porto, na Grande Lisboa, no Algarve, na Madeira, com grupos diversos em termos de idade, classe social, problemática, etc. A recepção desse tipo de intervenção costuma ser muito boa. Não é mais solicitada por desconhecimento por parte dos profissionais de educação", adianta Daniela Martins, da SPAT. A responsável defende que a arte-terapia deve ser usada em contexto escolar, abrangendo todas as faixas etárias. "As situações podem ser diversas, dependendo do objetivo do trabalho: apoio à aprendizagem, comportamento, desenvolvimento criativo e pessoal, apoio à educação especial, apoio ao desenvolvimento motor, problemáticas específicas do foro psiquiátrico, etc."

No caso concreto das necessidades educativas especiais, Daniela Martins realça que o método pode trazer vantagens ao nível do "apoio ao desenvolvimento cognitivo/motor, apoio à aprendizagem, criação de um espaço de confiança para liberação da dor, facilitar a espontaneidade, trabalhar questões relativas à eventual exclusão social, estimulação sensorial". "A arte-terapia costuma ser muito bem recebida nas escolas, com a utilização das mais variadas técnicas: expressão plástica, musical, dramática, corporal".

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Dia novo, esperança maior

"Dia novo, esperança maior.
Que a remessa de alegrias 
por vir seja abundância nas horas.
Que toda sorte de bons pensamentos 
permeie a razão dos instantes.
Quero fazer valer a condição de 
crença bonita que levo.
Quero fazer das certezas, verdades
que contribuam.
Quero ser a transparência de alma
que junta, sempre.
Que o trabalho evolua, que a vontade
de acertar seja missão.
Faço oração pro minuto, e resoluto,
agradeço.
Ao dia, aos amigos, a Deus."
(Dan Cezar)

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Acorda dona moça

Avida passa lá fora
 e você fica aí olhando pra dentro,
 fechada no nada.
 Flores precisam ser coloridas,
 sorrisos precisam ser enfeitados,
 estrelas estão amontoadas num canto esperando para iluminar os beirais das janelas.
 Hoje, uma borboleta comentou que você esqueceu sua aquarela na esquina da praça

 e crianças travessas andaram brincando de pintar vidraças, 
achando que eram cores sem dono, sem casa.
 O que foi que você perdeu,
 que de tão distante seus olhos não veem mais nada?
 O que encontrou pelo caminho que a fez descolorir e cansar de sorrir?
 Quero pintar um coração vermelho em sua boca,
 para que você se recorde de falar de amor,
 quero vaga lumes fazendo morada nas suas pestanas para iluminar seu olhar de flor.
 Vem dona moça,
 o tempo é agora, 
a vida é lá fora e tudo fica sem graça sem sua risada gostosa, 
sem sua mistura de cor."

(Renata Fagundes)

APAIXONE-SE

Apaixone-se definitivamente pelo seu sonho.
O sonho de ninguém deve ser mais apaixonante que o seu.
 
Apaixone-se pelo seu talento, mesmo que seu crítico insista para você escolher realizar outras coisas, mais “convenientes”.


Apaixone-se mais pela sua viagem do que pela chegada a seu destino, pois só a viagem é garantida.


Apaixone-se pelo seu corpo, mesmo que ele esteja fora de forma, pois de “qualquer forma” ele é a única casa que você realmente possui.


Apaixone-se pelas suas memórias mais deliciosas, ninguém pode tirá-las de dentro de você e elas são excelentes fontes de inspiração em momentos de dor.


Apaixone-se pelas besteiras saudáveis que passam por sua mente entre um e outro momento de estresse, elas ajudam a sobreviver.


Apaixone-se pelo sol, ele é fiel, gratuito, absolutamente disponível e dá prazer.


Apaixone-se primeiro por alguém. Não espere alguém se apaixonar antes por você, só por garantia e segurança.


Apaixone-se pela dança da vida, que está sempre em movimento dentro da gente, mas que, por defesa nós teimamos em algemar.


Apaixone-se mais pelo significado das coisas que você conquistar do que pelo seu valor material.


Apaixone-se por suas idéias, mesmo que tenham dito que elas não servem para nada.


Apaixone-se por seus pontos fortes, mesmo que os pontos fracos insistam em ficar em alto relevo no seu cérebro.


Apaixone-se pela idéia de ser verdadeiramente feliz. Felicidade encontra-se de sobra nas prateleiras de seus recursos interiores.


Autoria: Gláucia Daibert

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

No trabalho de arteterapia

“No trabalho de arteterapia, quando a pessoa começa a mexer com materiais de arte, 
ela vai se deliciando com a fluidez de uma cor lentamente se misturando com a outra, com as formas que as pressões de seus dedos vão criando na argila... esses efeitos a
vão fascinando, banhando-a internamente e, sem que se dê conta, vai acalmando o seu
ritmo interno, entrando em outra sintonia... E, nesse sentido, o trabalho com arte é uma
meditação ativa.”
Selma Ciorna





O trabalho artístico é uma forma de resgate e reconstrução interior, onde o processo não te obriga a nada, te deixa livre, apenas te dá uma diretriz, um caminho para chegar mais rápido aonde deve ser trabalhado. O processo é claro e tudo vai sendo trazido à tona, sendo visto de uma forma objetiva e encantadora.





A arteterapia permite que as pessoas representem visualmente os seus sentimentos, o que pode auxiliá-las a encará-los e trabalhar com eles.
Oferecendo um ambiente acolhedor, a arteterapia pode ajudar a ancorar as pessoas às suas realidades, enfatizando o momento presente.



"Ninguém sabe o que é beleza. A ideia de que as pessoas têm a beleza, o próprio conceito de mudança de beleza ao longo da história, juntamente com pretensões filosóficas e desenvolvimento simples do homem no curso de sua vida pessoal. E isso me leva a pensar que, na verdade, a beleza é o símbolo de algo mais. Mas o que exatamente? A beleza é o símbolo da verdade. Eu não quero dizer no sentido de contradição "verdade / mentira", mas no sentido do caminho da verdade, que o homem escolhe " Tarkovsky


sábado, 22 de junho de 2013

Arteterapia e a criança. *

E quando nos faltam as palavras? Quando o som é insuficiente para representar a emoção que sentimos?
A expressão verbal é a que mais usamos, mas ela não é única, nem suficiente para demonstrar aquilo que pensamos. Estamos cercados de outras formas de linguagens: linguagem corporal e uma das mais significativas e belas, a linguagem da arte.
Colocar em forma e cor aquilo que passa em nossa cabeça, que muitas vezes é grande demais, forte demais para que simples palavras as representem, ou ainda quando nosso vocabulário ou compreensão são insuficientes pra dizer.
Se entendermos a arte como forma de demonstrar emoções, fica fácil entender porque é possível se utilizar dessa ferramenta como terapia.
Pensando agora nas crianças, cujo vocabulário ou compreensão de certas emoções não é suficiente para expressar-se, a arte facilitará essa comunicação. A criança possui uma sensibilidade aflorada e a maneira como se expressam e brincam, permite que o contato com a linguagem artística exponha seus medos e inseguranças de forma leve e lúdica. A arte e principalmente a arteterapia permite um falar sem voz, sem som. Pois nem sempre a criança precisa falar abertamente de seu conflito, nem sempre ela quer, ou consegue falar. Quando acontece algo com ela, há uma percepção, sente-se incomodada, mas não sabe exatamente que sensação é essa. Se a magoa for com alguém próximo, como o pai e a mãe, por exemplo, uma boa dose de culpa vai deixá-la ainda pior.
Em um setting terapêutico acolhedor, que inspire confiança e respeite as possibilidades, os dramas e segredos começam a tomar forma, oferecendo técnicas e suporte para o acesso as suas emoções, um meio de expressá-la e posteriormente entende-las. Por exemplo, fomos ensinados a engolir nossa raiva, pois é feio senti-la, mas esse é um sentimento como qualquer outro e fingir que não o sentimos só vai nos deixar pior. O que é preciso é criar um caminho, uma válvula de escape para que esses sentimentos “ruins”, não se tornem destrutivos. A maneira de externá-los que é importante e não guardá-lo, fingir que ele não existe.
Expressando emoções por imagem a crianças, assim como qualquer pessoa, permite que conheçamos mais a nosso respeito.
*Artigo publicado na revista Tudo Mesmo – Ano I – Ed. 006 – Junho 2010

“Temos a arte para que a realidade não nos mate” *
Já dizia Nietzsche
A arte sempre manifestou os sentimentos dos homens em todas as épocas e sociedades. Alguns a usam como forma de expressão, outros como forma de relaxar ou um mesmo um hobbie. Afinal, arte é um produto fundamental á espécie humana, não é secundário.
Mas poucos conhecem a Arteterapia, um processo terapêutico que utiliza os recursos artísticos possibilitando a conexão entre o mundo interno e externo do indivíduo. Carl Gustav Jung que desenvolveu a Psicologia Analítica utilizava a arte em sua terapia como forma de integrar a personalidade. Ele dizia que: “A arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida.” (Jung, 1920), pois a arte permite um contato interno, uma viagem ao nosso intimo, um conhecimento maior e uma tomada de consciência, afinal ela parte do estímulo à expressão, do desenvolvimento da criatividade e da análise dos símbolos, o que permite a liberação de emoções, com o uso de diferentes expressões artísticas.
A atividade artística exige de seu criador um constante diálogo entre inspiração, elaboração e execução. No processo artetapêutico, não há feio ou bonito, certo ou errado, não há tempo, apenas símbolos que vem à tona com um trabalho desenvolvido em um ambiente tranqüilo, em um setting terapêutico. Os símbolos que emergem no processo arteterapêutico permitem a reorganização, uma transformação da libido, pois os conteúdos antes inconscientes passam a integrar a consciência de forma ampliada.
Sem exageros: uma terapia democrática capaz de desinibir os mais resistentes
*Artigo publicado na revista Tudo Mesmo – Ano I – Ed. 005 – Junho 2010

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O Arteterapeuta deve:

_Ser acolhedor.
_Buscar as razões do outro e propor atividades relacionadas a seu processo.
_Aproveitar a carga emocional e os conteúdos que lhe são trazidos.
_Propor atividades de sensibilização.
_Estar atento e buscar captar a essência da pessoa em seus trabalhos.
_Buscar a quebra padrões estereotipados para que emerja o criativo.
_Estar preparado para acompanhar e dar suporte emocional.
_Estar preparado para ajudar na superação de obstáculos.
_Estar preparado para entender os conteúdos comunicados pelos símbolos que figuram nos trabalhos.
_Ser cúmplice e parceiro nesta caminhada.



Ser arteterapeuta é reconhecer a sintonia e a sincronicidade entre os processos criativos e os processos de vida.

domingo, 28 de abril de 2013

Arteterapia


"A arteterapia não é mero entretenimento, mas sim uma forma de linguagem que permite à pessoa comunicar-se com os outros. Desse modo, possibilita não só a liberdade de expressão, mas também sustenta a autonomia criativa, ampliando seu conhecimento sobre o mundo e proporcionando seu desenvolvimento tanto emocional, como social". (VALLADARES, 2003; 2004; VALLADARES & CARVALHO, 2005).

Trabalhando a criatividade, dando forma, cor, expressão aos sentimentos enumerados, conexões são feitas e novos significados podem ser atribuídos a velhas situações vividas em que ocorreram. A arte devolve a liberdade à alma aprisionada pelo vazio, pelo medo, ou ainda pelos sentimentos não nomeados, e leva à concretização dos anseios das necessidades interiores do ser humano”. (ARCURI, 2004 p.21).

sábado, 20 de abril de 2013

O que é que faz você feliz?


A lua, a praia o mar?
Uma rua, passear?
Um doce, uma dança, um beijo?
Ou goiaba com queijo?
Afinal, o que faz você feliz?
Chocolate, paixão, dormir cedo?
Acordar tarde, arroz com feijão, matar a saudade?
O aumento, a casa, o carro que você sempre quis?
Ou são sonhos que te fazem feliz?
Dormir na rede, matar a sede, ler ou viver um romance?
O que faz você feliz?
Um lápis, uma letra, uma conversa boa?
Um cafuné, café com leite, rir à toa?
Um pássaro, um parque, um chafariz?
Ou será um choro que te faz feliz?
A pausa pra pensar, sentir o vento, esquecer o tempo?
O céu, o sol, um som, a pessoa ou o lugar?
Agora me diz… O que faz você feliz?
Abrir a janela, comer na panela?
Viajar pela rua, o mundo da lua?
Ensaiar o passo, correr para o abraço?
Ou é andar descalço que faz você feliz?
Será que é cuidar da gente, cuidar do planeta?
Fazer diferente, fazer melhor?
Ficar na cama (só mais um pouquinho!)?
Comer um bolinho, fazer um carinho?
Se espreguiçar?
É isso que faz você feliz?
Ou é adivinhar desejo, estalinho de beijo?
Amar de paixão, arroz com feijão?
Uma bela salada, miolo de pão?
Talvez a macarronada, brincar de nada?
Fazer de tudo, fazer o que você sempre quis?
Me diz: o que faz você feliz?
Arnaldo Antunes

quarta-feira, 3 de abril de 2013

As cores







Esta experiência sensorial
através das cores desperta nas pessoas
a importância de se olhar,
de se cuidar,
de olhar o outro e
compartilhar com o outro e
perceber que ele faz parte de um todo
que também precisa ser olhado e ser cuidado.
Enfim, tomar consciência de si mesmo,
do outro em busca de uma saúde integral.



quinta-feira, 28 de março de 2013

A IMPORTÂNCIA DE UM CURSO DE ARTES PARA CRIANÇAS




É muito importante para o ser humano, principalmente em sua fase inicial da vida, onde sua personalidade está sendo formada, que ele possa ter contato com atividades que proporcionem estímulo à sua criatividade. O curso de arte para crianças busca desenvolver nos futuros adultos uma capacidade criativa e intelectual aguçada e preparada para as situações do dia-a-dia.

Tendo como base o desenho, a pintura e as experiências tridimensionais, o curso visa desenvolver o potencial criativo da criança, através de oficinas semanais. É estruturado pelas questões temáticas que envolvem o homem, o ambiente, a natureza, a história, a tecnologia e pelos conceitos do fazer artístico.

Enfatizando o cuidado com o meio ambiente, as crianças aprendem a reutilizar embalagens plásticas e metálicas, transformando o lixo em obras de arte personalizadas. Aprendem a ver e expressar a linha, a cor, o espaço, o volume, os grafismos e texturas, através do desenho e da pintura. Aprendem noções de história da arte, composição e pesquisa de materiais expressivos. Desenvolvem esses conteúdos através da análise e estudo das obras de artistas, movimentos ou períodos artísticos diferenciados.

Por Cláudia Reis

sábado, 16 de março de 2013

De onde vem a arteterapia?


 – 8 DE MARÇO DE 2013/  http://www.institutoevoluir.com.br

Com o alvorecer da Psicanálise, no início do século XX, Freud se interessou pela arte e concluiu que o inconsciente se manifesta através de imagens, que transmitem significados mais diretamente do que as palavras. Observou que o artista pode simbolizar concretamente o inconsciente na produção artística, retratando conteúdos do psiquismo que, para ele, é uma forma de catarse[1]. Mas, ideia de utilizar a arte como instrumento para acessar o inconsciente surgiu do médico psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, fundador da Psicologia Analítica e pesquisador do funcionamento do corpo e da mente do homem. Houve então o surgimento de estudos que envolveram as atividades artísticas como instrumento de expressão da interioridade do indivíduo

A Arteterapia nasceu entre o final do século XIX e o início do século XX, quando Jung abordou entre 1875 e 1961 a teoria dos arquétipos que traduz as imagens primordiais, os conteúdos imagísticos e os simbólicos do inconsciente coletivo, compartilhados por toda a humanidade e explicitados em mitos e lendas ou no imaginário individual. Ele identificou também a dificuldade que as pessoas enfrentavam para mobilizar afetos profundamente guardados e trazê-los à consciência por meio do instrumento verbal (JUNG, 2001). A partir daí, Jung compreendeu o fato de a espécie humana ter escolhido caminhos mais suaves de expressão, como a dança, as representações mímicas, a pintura, a escultura e a música (JUNG; WILHEIM, 2001).

Dupla eficácia
Jung identificou em suas pesquisas sobre simbolismo, uma relação entre os sonhos dos indivíduos que atravessam crises interiores e os desenhos que eles produziam. Descobriu a arte[2], como forma pura de expressão para a demonstração do inconsciente do indivíduo. Pôde verificar também em seu trabalho clínico que a produção artística em especial o desenho e a pintura, ao estimular a concentração, imaginação e a criatividade, poderia apresentar dupla eficácia: conservar a ordem psíquica ou restabelecê-la. Jung criou o processo de autodesenvolvimento, denominado individuação, envolvendo a criatividade e a concretização de imagens que possibilitam contato com o inconsciente pessoal e coletivo.

Concluiu então, que para o indivíduo ser inteiro necessita integrar-se consigo mesmo e diferenciar-se do outro. Foi nessa linha que a arte surgiu como ferramenta para a modificação da realidade interior do indivíduo e para a sua realização pessoal (JUNG, 2007). Naquela época, havia uma preocupação do psicológico com o entendimento da mente humana e entre as técnicas utilizadas para essa compreensão à produção artística a qual era a mais investigada.
O termo Arteterapia surge pela primeira vez em 1945, no primeiro livro publicado por Adrian Hill “Arte versus Doença”. Adrian Hill, artista inglês, esteve internado num sanatório para tratar uma tuberculose. Durante o longo período de evolução da sua doença e reabilitação, numa época em que os recursos para combatê-la eram escassos, ele ocupou o tempo de internação desenvolvendo pinturas. Os médicos que o assistiam puderam observar uma aceleração na sua recuperação e um estado geral de bem-estar manifesto.
Após o seu restabelecimento, eles convidaram-no a regressar para fazer pintura com os pacientes internados no sanatório. Desde esses acontecimentos a Arteterapia evoluiu significativamente, tanto do ponto de vista dos modelos que a caracterizam das formações existentes, como dos países em que é reconhecida até hoje. Basta dizer que a Arteterapia é um dos meios terapêuticos reconhecidos e subvencionados pelo sistema de saúde britânico. Ela é, a título de exemplo, reconhecida pela Associação Internacional para o tratamento de Esquizofrenia.

A partir dessas iniciativas na psiquiatria e na arte, da valorização da arte dos chamados “loucos”, da compreensão de que a produção artística traz benefícios para o bem estar psíquico do indivíduo, vemos surgir a Arteterapia como disciplina, em especial nos Estados Unidos com o trabalho de Margaret Naumburg que em 1941 desenvolveu um trabalho de “arte-terapia dinamicamente orientada” num hospital psiquiátrico.
Terras brasileiras
Em 1969, foi oficialmente fundada a Associação Americana de Arteterapia (AATA).
A Arteterapia chegou ao Brasil através do psiquiatra Ulysses Pernambucano, que foi o pioneiro no uso da Arteterapia entre pacientes psiquiátricos, já na em 1920. Outros médicos inspirados em seu trabalho publicaram artigos e aplicaram a técnica em algumas instituições ao longo do século XX. Dois grandes psiquiatras brasileiros também o fizeram: Osório César e Nise da Silveira.
A psiquiatra Nise da Silveira inaugurou no Brasil em 1946, uma das terapias mais crescentes no país: a Arteterapia. Ao trabalhar no Centro Psiquiátrico D. Pedro II no Rio de Janeiro procurou compreender as imagens produzidas pelos pacientes sob a ótica da teoria junguiana, fez um excelente estudo e deixou um grande legado para a Arteterapia. Trabalhos dos internos foram apresentados por ela em congresso de psicopatologia na Europa. Em 1952, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente e em 1981 escreveu o livro “Imagens do Inconsciente”.

Inspirados no trabalho da Drª Nise da Silveira inúmeros profissionais passaram a se utilizar das técnicas artísticas no tratamento aos transtornos mentais.
Esses pesquisadores e seguidores de Nise da Silveira no Brasil e no mundo, implantaram a arte como base de apoio terapêutico possibilitando ao paciente por meio dessa intervenção desvendar os mistérios contidos no seu inconsciente.
A lacaniana Françoise Douto em 1972 utiliza a arte como meio de comunicação com crianças. Através de gestos, mímica, desenho, escultura e outras expressões, ela interage com crianças, até mesmo com as que não falam, procurando desta forma ajudar também no desenvolvimento motor, no raciocínio e no relacionamento afetivo. Ao utilizar os princípios da Gestalt-Terapia Janie Rhyne relata a sua experiência e as transformações de seus clientes com a aplicação de suas técnicas de fazer arte. Escreve o livro “The Gestal Art Experience”[3] que mostra a possibilidade de o indivíduo promover o contato com os conflitos e reorganizar as próprias percepções através da arte. Natalie Rogers, filha de Carl Roger sem 1974 aplica os princípios da teoria centrada na pessoa junto ao trabalho expressivo como pintura, modelagem expressão corporal, teatro, dança, música, poesia e mímica. Ela demonstra que a expressão deve ser verbalizada e compreendida pelo próprio paciente e não interpretada pelo terapeuta. Denomina este trabalho de Conexão Criativa.
Na década de 1980 essa abordagem foi trazida ao Brasil por Selma Ciornai, psicoterapeuta Gestáltica com formação em Arteterapia em Israel e nos Estados Unidos. Foi ela quem criou e desenvolveu em São Paulo, o curso de Arteterapia no Instituto Sedes Sapientiae. Outras teorias mais recentes vêm fundamentando a Arteterapia, como o psicodrama de Moreno, as linhas humanistas, sistêmica e transpessoal. A Arteterapia, sem sombra de dúvida contribui ascendentemente para que o homem do século XXI possa adquirir maior qualidade de vida.
Texto extraído da Pesquisa científica “Arteterapia como Coadjuvante no Tratamento dos Transtornos Mentais/2012.
Autoria de Monica Abete – Arteterapeuta e psicopedagoga no Instituto Evoluir